Cinco anos atrás, quando meu pai me contou a história da Malala durante um almoço depois da aula, eu nunca teria imaginado que alguns anos depois estaria a caminho da Cidade do México com a minha avó para conhecê-la.
Na minha memória, tudo aconteceu muito rápido. Eu havia mandado um cartão postal para a Fundação Malala, e isso fez com que eu desse uma entrevista para eles no dia 13 de agosto do ano passado contando um pouco sobre a educação das meninas no Brasil. Nunca me passou pela cabeça que no dia seguinte, por volta das sete e meia da noite, eu receberia um e-mail me convidando para conhecer a Malala no México. Era a primeira vez dela na América Latina.
Minha primeira reação foi travar. Acho que a minha cabeça deve ter dado “bug” por uns dez segundos. Eu não conseguia acreditar, a ficha não caia. Depois, eu reli o e-mail e então corri para o telefone, já chorando de emoção, pra falar com os meus pais.
Entre 14 e 31 de agosto os dias na minha casa tiveram 48 horas: eu não tinha passaporte, e então tivemos que fazer o pedido de passaporte de urgência. A moça disse que só chegaria em dez dias e eu quase comecei a chorar de novo. Foram uns dois dias entre o pedido do passaporte e a chegada dele em minhas mãos. Quando peguei o documento pela primeira vez, não parava de tremer.
Embarquei para o México no dia 31 de agosto às cinco da manhã junto com a minha avó materna. A viagem foi um tanto quanto cansativa, fizemos uma escala em Lima depois de cinco horas de voo e depois foram mais quase quatro horas até a Cidade do México. Nada daquilo importava pra mim. Nem o meu medo de avião apareceu, nem a saudade dos meus pais.
No dia 1° de setembro acordei uma hora antes do necessário. Quem disse que eu conseguia dormir? Se preguei os olhos durante duas horas naquela noite eu saí na vantagem. A emoção era gigante.
Logo de manhã, mais precisamente às 7h45, tivemos o primeiro contato com a Malala. Era só pra tirar uma foto, mas eu não cabia em mim de tanta alegria. Nem sorrir direito eu conseguia de tanto que eu estava tremendo.
O encontro aconteceu mesmo na hora do almoço na casa Jacaranda, um local que dá aulas e cursos de culinária. Junto com as meninas da Colômbia, do México e com a Malala aprendi a fazer Sopes (uma espécie de tortilha feita com milho) e também molhos mexicanos apimentados. A Malala também fez tudo que a gente fazia. E a Mariana, uma das meninas da Colômbia e que nos ajudou com a tradução, ficou encarregada de fazer perguntas para que nós cinco nos conhecêssemos melhor, já que estava todo mundo com um pouco de medo de falar com a Malala.
Enquanto almoçávamos pudemos realmente conversar, junto ao pai dela e da Farah, a CEO da fundação. Malala quis saber quais eram os problemas que as meninas enfrentavam para ir à escola e as possíveis soluções para esses problemas. Eu falei da falta de professores, cadeiras, cadernos, greves e das condições muitas vezes precárias que os alunos da rede pública enfrentam nas escolas. É claro que existem as exceções mas, infelizmente, essa é a realidade de alguns lugares. Também falei sobre as ocupações das escolas estaduais em 2015 que aconteceram pois o governador do estado de São Paulo iria fechar 94 escolas, o que faria muitos alunos mudarem de colégio e irem estudar muito longe de casa. As meninas tiveram uma imensa e maravilhosa participação nesse movimento.
Mais do que poder dividir com a Malala essas questões, fiquei muito feliz por saber que as minhas (e as nossas) lutas fazem sentido. A Malala luta por educação. Luta pelos direitos das meninas, pela equidade de gênero. Eu também luto por isso. As mulheres lutam por isso. O encontro com ela me fez perceber que por mais difícil que seja levantar todo dia com ânimo para lutar pelos nossos direitos, é necessário que essa luta continue. A Malala conseguiu, quem foi que disse que juntas nós não conseguiremos também?
Ilustração: Daniela Nóbrega
Texto: Luiza Moura