Nenhum atleta, de qualquer gênero, defendeu tanto a seleção brasileira de futebol feminino quanto a jogadora Formiga. Ela também é a única presente em todas as edições das Olimpíadas de sua modalidade – e a mais velha a marcar um gol.
Marta, nossa mais famosa jogadora, foi cinco vezes eleita a melhor do mundo.
Luiza tem 14 anos, joga na escola do Paris Saint-German e foi eleita uma das 100 mulheres mais influentes do mundo pela BBC. Ela se orgulha de jogar como uma menina.
Se alguém acha que “o Brasil é o país do futebol” só quando falamos de futebol masculino, está enganado. Também entre as meninas e mulheres do país corre nas veias o amor pelo futebol feminino. E ainda que não recebam os mesmos incentivos e salários do que os pares masculinos, as mulheres têm marcado cada vez mais sua presença nas arquibancadas e nos gramados. Afinal, futebol também é coisa de menina!
Marcado por avanços e retrocessos, o futebol feminino no Brasil superou muitos obstáculos para se estabelecer – uma luta que, aliás, ainda não terminou. Ele foi proibido em 1941 porque na época se acreditava ser incompatível com a natureza feminina. Permaneceu mais de três décadas clandestino até a proibição cair. A seleção feminina só foi estabelecida em 1986. Em apenas 32 anos, fomos segundo e terceiro lugar em Copas do Mundo (2007 e 1999), medalha de Prata em duas edições das Olimpíadas, tricampeãs dos Jogos Pan Americanos e sete vezes campeãs da Copa América (a última vez foi esse ano!). Nada mal, não é? Além disso, crescem os grupos de mulheres torcedoras, repórteres esportivas e até mesmo narradoras dos jogos.
É claro que nem tudo são flores e as meninas e mulheres que se aventuram no futebol ainda têm mais dificuldade para estabelecer sua carreira, já que há menos equipes e torneios disputados, e ainda lutam para ser respeitadas, já que ainda há quem pense que o futebol é um ambiente masculino. Mas tudo isso pode mudar com incentivo, basta ver que a super campeã seleção feminina de futebol dos EUA atrai mais público, dinheiro e patrocinadores do que a masculina. Lá nos Estados Unidos futebol é coisa de menina e todo mundo sabe.
A boa notícia é que no Brasil não faltam meninas e mulheres dispostas a virar esse jogo – e que quanto mais gente envolvida, mais barreiras se rompem para todas as meninas que desejam jogar futebol. Luiza Travassos, de 14 anos, é uma delas. Ela se apaixonou pelo esporte na Copa do Mundo de 2010, através do álbum de figurinhas, e desde então sua vida mudou. Ela começou a fazer aulas da modalidade e hoje joga na escola do Paris Saint-Germain no Rio de Janeiro e também no Team Chicago, um projeto social que pretende levar meninas para jogar nos Estados Unidos.
Mas não pense que isso é tudo – eleita uma das 100 mulheres mais influentes do mundo pela BBC em 2017, a paixão de Luiza pelo futebol feminino e sua determinação em seguir na modalidade fazem toda diferença para as muitas meninas iguais a ela no Brasil. Por sua insistência para continuar praticando o esporte – que Luiza sonha ser também sua profissão – ela já fez com que novas turmas fossem abertas para meninas. No início, para alocá-la, mas as iniciativas mostraram imediatamente que Luiza não era a única apaixonada por futebol.
“Aprendi a jogar como uma menina e a me orgulhar disso” – Luiza Travassos, 14 anos.
“Acho que estou inspirando muita gente, até pelas mensagens que recebo das meninas [na página Futblog – A menina que joga Futebol]. Ter referência faz muita diferença, ter alguém para mostrar que dá para chegar”, diz ela, que se inspira em Marta, Casemiro, Philippe Coutinho e, é claro, Neymar (que já até gravou um vídeo para ela!). Luiza é otimista em relação ao futuro da modalidade no Brasil – e nem poderia deixar de ser, considerando o quanto ela mesma já mudou a realidade do futebol feminino por onde passou.
Ela diz ter esperança de que com o tempo, mais e mais meninas se juntem ao esporte, até porque motivos existem de sobra: “Com o futebol aprendi a ter autocontrole, inteligência emocional. É um esporte onde confiança é basicamente tudo. São lições que vou levar para a vida”, diz ela, que completa: “Já tive jogos em que o treinador da equipe adversária incentivava os meninos dizendo que eles não podiam perder ou levar drible de uma menina. Como assim não pode? O que acho é que apesar das dificuldades, temos que acreditar em nós mesmas e não dar bola para o que os outros falam. Precisamos driblar o preconceito”, finaliza, com um conselho para as que sonham em balançar as redes.
Grandes meninas futebol feminino
Além de Luiza, que você pode acompanhar pela página do Facebook, pelo blog ou canal do Youtube, nosso futebol tem outras grandes estrelas. Conheça um pouco delas:
Marta
Marta Vieira da Silva (1986) nasceu em Dois Riachos, no interior de Alagoas, no dia 19 de fevereiro de 1986 e é provavelmente o maior ídolo do futebol feminino brasileiro. Foi eleita pela FIFA cinco vezes consecutivas a melhor jogadora de futebol feminino do mundo, entre os anos de 2006 e 2010. Foi Bola de Ouro em 2004 e em 2007 foi Bola de Ouro e Chuteira de Ouro.
Marta começou a jogar futebol no juvenil do Centro Sportivo Alagoano (CSA), em 1999. No ano seguinte foi contratada pelo Vasco da Gama, onde jogou no profissional entre os anos de 2000 e 2002. Em 2003 vestiu a camisa da Seleção Brasileira nos Jogos Pan-americanos em Santo Domingo, onde a Seleção ganhou a medalha de ouro. Ainda em 2003 participou do Campeonato Sul-Americano e em 2004 sua equipe foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos em Atenas. E esse foi só o começo de uma vitoriosa carreira da atleta admirada por todos os brasileiros e brasileiras e que inspira novas meninas na profissão todos os dias.
“Você vai ser parte de algo maior. Você vai ser parte da mudança do futebol feminino. De mostrar para outras meninas que sentiram que não pertenciam, que elas, sim, pertencem. Que o lugar delas é ali mesmo, no campo de futebol.” – Marta, em “Carta para eu mesma quando jovem“.
Formiga
Miraildes Maciel Mota, a Formiga, estreou pela seleção brasileira de futebol feminino em 1995, com apenas 16 anos. Uma menina. Vestiu a amarelinha por mais de 20 anos, sendo nossa recordista absoluta de partidas pela seleção. É também a única jogadora de futebol feminino a estar em todas edições da modalidade nos Jogos Olímpicos.
Formiga começou no futebol em Salvador, sua cidade natal, e de lá foi para São Paulo e depois ganhou o mundo, atuando na suécia e nos Estados Unidos – dois dos países de maior tradição no futebol feminino. Não sem dificuldades, como ela já recordou em entrevista: “Chegou ao ponto de eu apanhar algumas vezes. Acredito que não era nem por preconceito, mas acho que tinham medo que eu me machucasse, que alguém fizesse alguma maldade. Quando eles me viam jogando bola, eu tinha que correr para casa e me esconder até a minha mãe chegar. Senão, eu apanhava pra caramba”.
E ela continuou, mesmo sem incentivos, mesmo com preconceito. Continuou por puro amor ao futebol. O Brasil todo agradece.
Emily Lima
Ela foi a primeira mulher a treinar a seleção feminina. Em 13 jogos comandando as nossas meninas, Emily somou 7 vitórias, 1 empate e 5 derrotas. Sua demissão repentina causou revolta entre as jogadoras, e algumas estrelas do time como Cristiane, Rosana e Fran anunciaram que não voltariam a jogar pela seleção em apoio à Emily. Antes de treinar a seleção principal, Emily trabalhou nas seleções de base e foi vice-campeã da Copa do Brasil com o São José.
Andressinha
Andressa Cavalari Machry, ou Andressinha, tem apenas 23 anos e é uma da nova geração de jogadoras do Brasil. Seu trabalho na seleção brasileira começou aos 14 anos de idade, na seleção sub-17. Atualmente jogando nos EUA, a meia já defendeu times como Pelotas, Tiradentes, Ferroviária e Iranduba. Teve muito incentivo do pai no começo de sua carreira