A mulher no capitalismo na visão de uma estudante de 20 anos

Uma breve definição do capitalismo seria a exploração direta da mão de obra de trabalhadores assalariados visando o lucro de um indivíduo. É uma engrenagem social, política e econômica sustentável pela divisão de classes com uma classe explorada e outra exploradora, cuja classe subordinada vende sua força em troca de um salário.

Esse sistema precisa de uma hierarquia para se manter. Portanto, dimensões de desigualdade são funcionais para a lógica de produção e reprodução do capitalismo, uma vez que existe uma força de trabalho mais desvalorizada. Por exemplo, a das mulheres. 

A opressão feminina não surgiu no capitalismo, mas nele encontrou forças e contornos que sustentam uma sociedade patriarcal. Sendo tão enraizado que as próprias mulheres têm dificuldade de percebê-lo.

A mulher no capitalismo

Objetificação Feminina

A emancipação das mulheres é completamente inalcançável num sistema social baseado em estruturas patriarcais que favorecem o sexo masculino. O patriarcado promove a desvalorização do sexo feminino em ambientes de ascensão através da objetificação, sexualização e, principalmente, subjugação. Assim, prejudicando e criando barreiras que dificultam o acesso, permanência e ascendência das mulheres em espaços de liderança, sendo ainda pior para mulheres pretas.

A hipersexualização e a banalização do seu intelecto estão entre as inúmeras formas de objetificar a mulher, e é deveras perceptível em ambientes majoritariamente masculinos. 

Na política, muitas mulheres são violentadas verbalmente e fisicamente, sendo silenciadas, julgadas, agredidas e insultadas. Já nos esportes, a objetificação feminina vai desde o enquadramento das câmeras até o uniforme destinado a elas, que muitas vezes são menores e apertados se comparado ao dos atletas homens.

No Brasil, uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE) apontou que a participação de mulheres no mercado de trabalho é 20% inferior à dos homens. Segundo a FGV, 51,56% das mulheres estavam empregadas em 2021; entre os homens, o índice é de 71,64%. 

Além disso, de acordo com dados do Instituto Patrícia Galvão, as mulheres sofrem mais assédio moral e sexual no ambiente de trabalho do que os homens. Foi reportado que 40% das mulheres já foram verbalmente atacadas no ambiente de trabalho contra 13% dos homens que vivenciaram a mesma situação. Dentre os trabalhadores que tiveram seu trabalho excessivamente supervisionado, 40% também são mulheres e 16% são homens.

Desigualdade de Oportunidades

Muitos têm a percepção de que nos dias atuais é providenciado oportunidades iguais entre os homens e as mulheres. No entanto, isso não condiz com a realidade. 

Na verdade, o que existe são obstáculos que se concretizam entre os dois gêneros, como chances de emprego, inserção no ambiente laboral, tratamento individual, distintas remunerações e a incongruente divisão do trabalho doméstico. Dessa forma, tornando o mercado operário um campo de luta para o gênero feminino.

Um levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apurou o impacto dos afazeres domésticos na vida da mulher. O estudo diz que no Brasil, as mulheres se dedicam aos afazeres domésticos quase o dobro de tempo que os homens. O levantamento também apurou a diferença de salários e rendimentos, reportando que as mulheres receberam, em média, 77,7% do montante auferido pelos homens, tendo proporções maiores nas funções e nos cargos superiores.

Emancipação Feminina e Empoderamento

Superando a generalização, a mulher que alcança sua vitória financeira tem grandes chances de cair no mito do empoderamento individual. 

Ser uma mulher independente, com intelecto reconhecido, nome e lugar social em meio aos homens é bem tentador. Porém, muitos confundem esse estilo de vida com emancipação, empoderamento e outros conceitos sem terem conhecimento prévio. Na realidade, a mulher que se liberta das barreiras sociais – se é que isso é possível – de forma singular e isolada, está sendo enganada com os benefícios e privilégios que a lógica capitalista poder de aquisição pode fornecer. 

A conquista individual pode ser benéfica quando uma mulher usa o mínimo espaço conquistado como espaço coletivo, dando força às batalhas políticas e sociais, buscando representação, autonomia e mudança sem se afastar do cenário social em que vivem as mulheres. Justamente, para caminhar em frente a uma revolução social, caso contrário, a mulher apenas valida o sistema.

O discurso social pregado de que qualquer pessoa pode “vencer” invalida as dificuldades estruturais presentes no capitalismo e suas interseccionalidades, como gênero, raça e classe social. Um discurso que, intencionalmente, encoraja a ilusão de que com mais trabalho é possível ter ascensão e emancipação monetária, justamente para promover maior mão de obra e força de trabalho por parte da classe trabalhadora visando o lucro sucessivo da classe exploradora. 

A revolução feminista não é uma luta feminina, é uma luta social, e deve atuar de forma coletiva, considerando todas as interseccionalidades. Afinal, não pode ser um movimento que não traga transformação social comum.

É necessário saber que os instrumentos de opressão atualizam-se e reinventam-se, e é assim que se mantêm firmes até hoje. Por isso, devemos combater o sexismo alimentado dentro do sistema capitalista em conjunto.

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