A violência contra a mulher no cenário político

Manifestação contra a violência de gênero

Dentro de uma sociedade patriarcal, é possível perceber uma comoção quando uma mulher alcança um cargo de poder ou mandato no meio político. Longe de ser novidade, a adversidade que acompanha a participação das mulheres na política é concreta desde a conquista do direito ao voto feminino brasileiro em 1932. 

A face mais conhecida da violência contra a mulher é a violência doméstica. Ocorre de forma privada, dentro de casa, e o parceiro amoroso, majoritariamente, é o principal agressor. No entanto, essa violência causada pela desigualdade de gênero e dominação masculina também se inclina para o cenário político, configurando violência política de gênero.

A violência política de gênero se define como ato intencionado a excluir mulheres do espaço político ou induzi-las a tomar decisões contrárias à sua vontade. O objetivo primordial é diminuir ou anular os direitos político-eleitorais das mulheres. Assim como a doméstica, a violência política pode incluir a agressão física, psicológica, simbólica, sexual, patrimonial e moral. 

A hostilidade contra as mulheres no meio político é uma das principais barreiras ao acesso e permanência feminina nos espaços de liderança e representação política. Isso acaba prejudicando a democracia e impedindo o progresso em direção à igualdade efetiva. Trata-se, portanto, de um problema global que se manifesta cotidianamente, e mais intensamente durante os processos eleitorais, no exercício da atividade política feminina. 

Baseadas na reprodução do sistema patriarcal, essas práticas tendem a ser socialmente toleradas e endossadas. No espaço político, padrões patriarcais se manifestam em forma de discriminação de gênero, desigualdade nas relações de poder, e padrões sociais e culturais predominantemente masculinos.

Relatos

Um bom exemplo disso são as agressões verbais que exploram a sexualidade e as características físicas das mulheres, como forma de desqualificá-las publicamente. Relatos de mulheres que sofreram violência, principalmente estupro e agressões físicas, não são incomuns.

Em 2021, a ex-deputada federal Manuela d’Ávila no Brasil revelou uma ameaça de estupro contra sua filha de cinco anos. Além de prejudicar a vida pessoal das mulheres que desempenham um papel ativo no cenário político, reforça a violência de gênero em diversas instâncias.

Estudos realizados por universidades e organizações sociais relatam dados sobre esse problema. De acordo com uma pesquisa do Instituto Holandês para a Democracia Multipartidária (NIMD), concluiu-se que 6 em cada 10 mulheres relataram ter sido vítimas de violência política. No México, o coletivo feminista Luchadoras mostrou que 62 candidatas sofreram agressões e ameaças por meio do uso de tecnologias e redes sociais. No Brasil, o Instituto Alziras pesquisou 45% dos prefeitos eleitos em 2016 e mostrou que 53% já haviam sofrido assédio ou violência política apenas por ser mulher.

Dados sobre a Violência Política

Na América Latina, os índices de violência e assédio são altos e são um desafio comum para as mulheres que ingressam na vida política. Uma vez eleitas ou ocupando liderança, as mulheres enfrentam uma rotina exaustiva de discriminação, ameaças e violência em diferentes esferas, tendo como consequência mais grave o feminicídio político.

É possível observar o retrato real dessa violência e intimidação contra a mulher em seus casos mais graves. Em 2002, Ingrid Betancourt foi sequestrada enquanto fazia campanha para as eleições presidenciais e foi mantida em cativeiro por 5 anos. No México, Elisa Zepeda Lagunas foi arrastada para a praça da cidade e quase morta a golpes em 2013 em represália por seu ativismo pelas mulheres indígenas. E por fim, Marielle Franco, eleita como a quinta vereadora mais votada da cidade do Rio de Janeiro e com forte atuação na luta pelos direitos humanos, foi morta a tiros no centro da cidade em 2018.

A ineficácia e a falta de políticas públicas capazes de proteger os direitos das mulheres é gritante. A omissão do poder público tem como efeito a banalização e naturalização das agressões sofridas pelas mulheres durante o processo eleitoral e no exercício do mandato, o que desestimula novas candidaturas femininas. 

Assim, a não participação das mulheres nos espaços e relações de poder aumenta e resulta na multiplicação da desigualdade e violência política de gênero.

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